texto do projeto:
farnel, matula, comida cozida e levada em um grande guardanapo
branco, com porções de feijão, carne e afins, se caracteriza como verbete
aglutinante de uma série de pesquisas que vem sendo feitas desde 2009. O
processo teve início no campo gráfico em articulação com a factura de
aquarelas, na determinação da densidade de pretos. Uma das marcas do fazer em
gravura é a relação da profundidade para a determinação da densidade do preto,
na gravura em metal; já na aquarela uma série de camadas de tinta, do espectro
que na relação cor-pigmento-superposição cria um cinza terciário muito denso
(quase preto), nessas proposições a adição de fases de nanquim ou de material
obtido a partir de queima (tintas para gravura), conferem uma maior
profundidade/densidade. A poética do material, como o nanquim e o carvão tem
relação direta com o fogo, que desde os povos primitivos estabelece uma relação
mística de passagem, de uma materialidade a uma imaterialidade, o que resta
desse processo, carvão e cinzas, são quase-material/quase-imaterial, um estado
de fronteira. Essa relação de fronteira também está na busca de referências
para o trabalho, Morris Louis (1912-1962) na proposição de pinturas tão planas
e sem imagem anterior ao processo de pintura, que chegava a tingir o tecido da
tela, na criação de pinturas translúcidas, estabelecendo uma discussão sobre a
planaridade da tela e da objetificação do trabalho de arte. Yves Klein
(1928-1962) na série Fire Paintings
utiliza impressões de material anti-chamas e posteriormente o uso de um
lança-chamas a fim de criar pinturas/impressões onde não há fogo estabelece uma
relação entre impressão/pintura/performance. Estabelece-se assim uma relação
entre fogo-preto-planaridade.
Os
trabalhos apresentados tem como proposição inicial a criação de um preto
profundo, para isso foram utilizados vários tecidos de algodão (um com processo
fabril de impressão, listrado; e outros brancos), que foram tingidos
inicialmente com as cores primárias, seguindo o tingimento e secagem, para
posterior superposição de tingimento. O processo resultou um tom muito próximo
a aquarela, cinza terciário. Seguindo-se a esse resultado inicial, foi
realizado o depósito de tinta acrílica preta sobre a superfície, que
posteriormente foi queimada. O processo de queima não resultou favorável,
reincidindo a utilização de outro material, desta vez proveniente da queima, o
carvão. Esses tecidos são posteriormente apresentados na composição dos
trabalhos apresentados. Na série Farnel 1
(2012) são apresentados dois tecidos de 17 x 129cm, que são resultantes dessa
primeira fase da factura, em um dos trabalhos a tinta acrílica dourada sobre a
faixa fronteiriça demarca uma área de transcendência. Em Farnel 2 (2012), o tecido superpõe duas telas de 15 x 15 cm, já em Farnel 3 (2012), duas telas de 18 x 24
cm, apresenta um experimento de queima, com superposição de carvão. Farnel 4 (2012), uma série de 9 telas de
10 x 15cm que recebem uma ou até dezenove camadas desse tecido, criando
quase-roupas para telas, estabelecendo uma relação de ruptura com a planaridade
e objetificando a tela. Em Farnel 5 (2011), uma instalação composta por sete
estroncas de madeira de 3,00 m, queimadas com o tecido de forma a criar bonecas
de pau, com pontas de lápis, que traçará retas no espaço da galeria, a partir
do arraste, o trabalho também é composto por uma lâmpada que gerará impressões
de luz sobre a parede, acrescentando ao trabalho a relação masculino/feminino.
Proposição também presente em um vídeo, apresentado num televisor em um dos
cantos da galeria, Faça-se a luz, reeditado
em 2012, onde cabeças de uma boneca Barbie e de um boneco Ken são queimados até
ficarem planos e pretos. As imagens desses bonecos se alternam e se fundem no
próprio negro da queima do material.
O
projeto da exposição tem como característica criação de zonas de ocupação e
zonas onde a luz ocupará o vazio. Os trabalhos de pequena dimensão farão um
contraponto com as grandes dimensões da galeria. E o aparelho de televisor
realizará outro desenho sobre o chão, criando zonas de iluminação e zonas
escuras.
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